domingo, 7 de janeiro de 2007

"Cogito" I - Ainda assim, não gosto…

Muito se fala e escreve, em Portugal, sobre o próximo referendo. A blogosfera não é excepção.

Cada posição, “não” e “sim”, argumenta. Políticos, médicos, psicólogos, advogados, professores, teólogos, associações, instituições, cidadãos comuns que dão a cara e o nome, cidadãos anónimos, cidadãos menores de idade, entre outros, tomam partido. Outros, certamente, assistirão ao “espectáculo”, vendo para onde param as modas. Outros ainda, imbuídos por assuntos sobejamente mais atraentes do que ter de pensar no futuro do país, provavelmente grande parte dos abstencionistas, não ligam.

Vemos, ouvimos e lemos de tudo. Desde boa a má argumentação. É, de facto, admirável como se pode fazer boa argumentação, tanto para o “não”, como para o “sim”.

Prefiro as pessoas envolvidas às pessoas votadas à inanidade, seja por que motivo for. A questão é polémica, já sabemos, mas precisamos mesmo que se debata, que sejamos esclarecidos.

Mas (há sempre um “mas”), não gosto da falta de respeito, nem da agressividade. É descredível e desprezível. Ela faz-se sentir em ambas as posições. Por vezes, acho que as pessoas dizem mesmo aquilo que não querem.

Querendo ou não, há mensagens vindas da Igreja Católica de que não gosto, como sejam os panfletos com imagens perturbadoras de fetos editados por um padre, a “ecologia da paz”, em que se questiona a sociedade que protege os animais, mas não a vida humana, e a comparação do aborto ao nível do terrorismo.

As imagens mostram a verdade? Sim. Uma realidade violenta e profundamente desumana. O padre Adelino, responsável pelos panfletos citados, defende-se com "Isto é matar seres humanos inocentes e indefesos, é homicídio, é desumano e cruel, traumático; uma vergonha, uma cobardia; um modo de ganhar dinheiro ignóbil, infame, maldito; o holocausto dos países modernos e civilizados!", e "Agressivo? As vítimas são os inocentes, esses é que são agredidos".

É verdade? É.

Ainda assim, não gosto deste tipo de “campanha”. (Se ela é a única que desperta alguns para o debate, então, tenho mesmo de concluir que os portugueses são uma massa facilmente manipulável, que não sabe pensar por si e precisa sempre da bengalinha para tomar opções. É grave.)

Na minha sincera opinião, a campanha deve ser feita pela positiva, como muito bem salientou Margarida Neto, da “Plataforma Não Obrigada”. Por isso, neste meu blogue, não apresento fetos estraçalhados. Apresento imagens de vida, argumentações válidas e testemunhos de quem, penosamente passando por situações difíceis, optou por dar a vida e nunca se arrependeu disso.

Para mim, esta é uma questão de Ética importante, e da mais elementar. É por esse prisma que avalio a questão do próximo referendo. E assim sendo, por não compactuar com uma cultura que ignora o primeiro direito ético fundamental do Ser Humano, e ser uma violação dos direitos de uma pessoa em gestação, é que tomo o partido do “Não”.

“Concorda com a despenalização da interrupção voluntária da gravidez, se realizada, por opção da mulher, nas primeiras dez semanas, em estabelecimento de saúde legalmente autorizado?”

Não, Obrigada!


Liliana F. Verde

4 comentários:

João Santos disse...

Comentários? Dizer algo? Que tal remeter-me ao silêncio? À falta de argumentos, somo-me à massa inculta que esta questão não convoca e à qual me enojo de pertencer. O facto de escrever assim já me diz que não lhe pertenço; diz-me também que não a posso mudar. O resto é literatura. A verdade esgota-me

Um abraço

Liliana F. Verde disse...

Caro João,

Lamento desapontar-te, mas "sim" e "não" têm argumentos. Podes ver em:

1) pelo "sim":

http://bloguedosim.blogspot.com/

http://arrastao.weblog.com.pt/arquivo/2006/12/porque_voto_sim

2) pelo "não":

http://www.bloguedonao.blogspot.com/

http://www.nao-obrigada.org/entrada.html

Remeter-nos ao silêncio? Também me dava vontade pelo fracturante que é esta questão e no radical que ela pode ser... Democracia participativa... gostamos dela, queremo-la?

João Santos disse...

Mas eu não estou nada desapontado... Melhor será dizer-se, em português melhor, eu estou é desiludido (ou decepcionado) - com o facto de não haver vagas para leccionar português em Portugal. Há que lutar

Cumprimentos à plataforma

Liliana F. Verde disse...

Aí vão dois... Mas como dizes, há que lutar. Sempre, ou eu não me chamo Liliana Verde!

Vai aparecendo, o "'Cogito' II" já está para sair.