sexta-feira, 5 de janeiro de 2007

A vida incomoda, mas dá paz

Testemunho postado em http://despenalizar.blogs.sapo.pt/

«Olá,

Gostava de vos dar o meu testemunho...
Tanto para os que me conhecem melhor e já sabem um pouco da minha vida,...e
para os que não, passo a explicar...

Tenho 36 anos e sou mãe de 3 crianças. Uma de 11, outra de 6 e a última de
2. A última nasceu com Trissomia 21 (síndrome de Down - vulgo Mongolismo).
Soubemos no início da gravidez, o que nos fez passar por determinadas
situações dolorosas, difíceis e muito "estranhas"....

Este tornou-se um assunto para mim "delicado" e incrível.

Sempre fui leve em relação ao assunto do aborto, até me ver na situação.
Como já disse, nós soubemos da deficiência da nossa filha Leonor às 16
semanas de gravidez. Foi um enorme choque, como devem
calcular...Imediatamente após a notícia, foi-nos IMEDIATAMENTE comunicado
pelo médico que poderíamos abortar e teríamos de decidir até às 24
semanas...

Por lei eu podia "abortar".

De repente, sem mais nem menos, estava nas minhas mãos a vida de alguém...
o que quer que eu decidisse a lei apoiava-me, tal como a maioria da
sociedade...é desconcertante este sentimento...poder "anular" uma vida à
vontade, sabendo que toda a gente me entende e apoia (mesmo que não
concorde).
Tudo isto porque ela não é normal...é diferente, tem um atraso mental que
nunca a vai deixar tirar um curso superior, ter filhos...por estas razões
eu posso matá-la.

A sociedade apoia, paga e assina por baixo!!!

Achámos (Zeca e eu) que temos os filhos para ELES serem felizes e não nós -
Pais - como muita gente acha).
A felicidade é relativa e não passa obrigatoriamente por cursos superiores
nem casamentos. Além de que, aprofundando o assunto, estas crianças
mongoloides são tão mais descomplicadas que naturalmente são felizes.

Quantos de vocês tem essa segurança em relação aos
vossos filhos ditos normais?

Bom, isto tudo para dizer, que apesar de não desejarmos uma criança
deficiente, não querermos, não nada, nunca (apesar de neste caso a lei dizer
que sim) pensámos em matá-la!

Além de matar, viver uma vida de família em cima de uma morte seria muito
duro para nós, e uma grande cobardia em relação àquela criança na minha
barriga que não pediu NADA. Com olhos em bico ou não, mais lenta ou não, Eu
não posso matar a minha filha!!! NÃO TENHO ESSE DIREITO, independentemente
de haver quem ache que sim.

A minha vida vai mudar? Sim
Vou estar enfiada em terapias? Sim
O coração dela está bem? Não sei
Os outros órgãos? Não sei
Ouvirá bem? Não sei
Verá bem? Não sei

Vocês sabem tudo isto antes dos vossos filhos nascerem? Têm certezas?

A partir desse momento e desses meses, a história do aborto tornou-se tão
clara para mim que gostava que lessem para ver se concordam...Estou um pouco
cansada destes mails todos muito técnicos (apesar de válidos) cheios de
leis e palavras difíceis quando no fundo tudo se trata de RESPEITO À VIDA.
Se é das 10 semanas ou 12 ou 24. Se é despenalizar ou liberalizar, se é psd,
pp, ps, ou bloco, se, se,se...

A pergunta que nos vão fazer é, (esqueçam o que os a favor chamam
"despenalização" e os contra "liberalização"):

Qualquer mulher (pobre ou rica, com ou sem problemas) se não quer ter um
filho pode matá-lo até às 10 semanas de idade?

Sim ou não?

Podem ou não?

Comecei a pensar...há tanta gente que tem pena destas mulheres...eu também
tenho....elas não queriam engravidar....não têm dinheiro...não têm
casa....são drogadas...têm 15 anos...qual a solução?

Matar o filho, claro!

É efectivamente uma solução, que tanta gente apoia e está pronta a pagar
essa morte do seu próprio bolso.

Lembrei-me depois, no seguimento deste raciocínio, que há outras mães nessas
condições....lembram-se da mãe da Joaninha? Aquela mãe que matou a filha de
5 anos e que está presa? E que Portugal INTEIRO se revoltou contra ela? Mas
ela, coitada, também não tinha condições de ter a Joaninha...perdeu o
emprego, não conseguia ajudá-la...e achou que para ela ter uma vida assim,
mais valia matá-la, no fundo era um acto de amor e proteger a sua filhota de
sofrer.... E dentro do mesmo contexto, achou bem. Matou-a, provavelmente ela
não deu por nada, tal como os bebés na barriga, e acabou-se o problema.

São 2 casos idênticos, mas vocês reagem de maneira diferente....é
engraçado....num revoltam-se...noutro, ainda estão a pensar nas pobres mães
que não os podem criar.

QUAL É A DIFERENÇA????

A diferença é que vocês viram a cara da Joaninha na TV, sentiram-se
"atingidos e sensibilizados" e o bebé de 10 semanas não o viram. É mais
fácil matar quem não se conhece a cara. É cobardia. O coração bate em ambas.
Pensem bem...2 mães que matam os seus filhos pela mesma razão.
Exactamente.
Uma pode e deve ir para a cadeia....outra nem pensar...coitadinha. Além de
que isto tudo é secundário. A mãe, lamento, não está em causa no referendo
ao contrário do que nos impingem. O que está em causa é o filho. Pode-se
matar ou não? É sobre ele que vamos decidir.

Há quem lhe chame "despenalização", eu (Bita) chamo MATAR.

Vocês consideram que a vida de um ser humano tem valor menor do que a
dignidade da mãe?
Acaso assassinar a um ser humano inocente e indefeso não seria um crime
maior do que o estrupo sofrido pela mãe?

O aborto não é um direito da mulher. Ninguém tem direito de decidir se um
ser humano vive ou não vive, mesmo que seja a mãe que o acolheu no seu
ventre. A mulher tem o direito de decidir se concebe ou não. Mas desde que
uma vida foi gerada no seu seio, é outro ser humano, em relação ao qual tem
particular obrigação de o proteger e defender.

Meus queridos amigos, gostava para quem ainda não pensou no assunto,
pensasse.

Vamos brevemente decidir sobre a ética do nosso País. Sobre se podemos ou
não abortar livremente até às 10 semanas. Segundo alguns quase toda a Europa
já aborta, matando as suas crianças....só Portugal é que está atrasado. Fico
radiante de o nosso atraso ser bom em algumas situações. E tal como fazemos
com os nossos filhos, dos colegas da escola devemos copiar os bons alunos e
não os maus. Temos de saber o que devemos trazer de exemplo da Europa e o
que NÃO DEVEMOS copiar. Além de que muitos deles já estão arrependidos das
decisões tomadas mas agora é tarde demais para voltar atrás. Nós é que
estamos SUPER ATRASADOS!!!

Votem contra a morte.

Não se abstenham, é uma vergonha.

Na dúvida, escolham a VIDA!

Tenham coragem para dizer a vossa opinião em público.

E mais, acabou-se o modernismo de "eu sou contra, mas cada um sabe de si".
NÃO! Se é contra explique. Têm a obrigação, de ajudar os indecisos e quem
não vê nem entende a ver e a entender.

E não metam isto nas mãos dos católicos. Este assunto da vida tem a ver com
Budistas, Católicos, Ateus, etc...é um assunto de ética moral da mais
simples...desde que nascemos que aprendemos: - Não se mata. Matar é mau.

Chega de estar tudo no seu canto a opinar e os políticos a decidir se
matamos ou não os nossos filhos.

E vocês Pais (homens), mais do que ninguém, falem! Alguém vos perguntou se
podem matar os vossos filhos? Vocês nem têm voz. A mulher decide tudo
sozinha!(coitadinha)

Desculpem se me exalto na escrita, mas realmente acho que andamos todos a
brincar às leis e com a vida das pessoas...

bjs
Bita»

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