Feminista, filósofa, professora, pedagoga, religiosa, mártir (tragicamente morta no campo de concentração de Auschwitz, em 1942), santa (a quarta Doutora da Igreja Católica?), co-padroeira da Europa, Edith Stein reúne em si o drama da pessoa do séc. XX.
Mais do que uma mulher, Edith Stein foi, na primeira metade do século passado, a irreverência feminina e existencial. Discípula e secretária particular do filósofo Edmund Husserl, a cujo pensamento pertence a Fenomenologia, Edith Stein procurou, na Filosofia, aquela que foi a busca de toda a sua vida, a Verdade, que viria a revelar-se-lhe por uma leitura acidental do Livro da Vida, de Teresa d'Ávila, levando-a a percorrer um caminho do ateísmo para o da fé.
Hoje, 8 de Março, dia da mulher, não falaria de Edith se não fosse o seu papel de ambiguidade e tensão no mundo em que viveu e aquilo que ainda hoje tão vivamente representa no universo feminino. Edith viveu na época da emancipação feminina, tendo sido ela mesma uma feminista, confessou-se ateia até aos 30 anos de idade e converteu-se ao Catolicismo ainda antes do Concílio Vaticano II, renegou a formação judaica familiar, estudou e doutorou-se em Filosofia, foi uma das primeiras mulheres a ascender a uma cátedra na Alemanha (que viria a abandonar aquando da subida ao poder do Partido Nazi), abriu o véu à ordenação de mulheres e defendeu a educação sexual feminina.
Onde inserir esta mulher? Pelo modo singular como viveu a sua existência, Edith gerará ódios e paixões, sem receber um aplauso uniforme pelo que foi. A Igreja Católica canonizou-a, mas parece esquecer que a sua santa é a mesma que disse não haver nenhuma fundamentação teológica para a não ordenação de mulheres. Qualquer feminista se vangloriaria do percurso político e académico desta mulher tão independente, mas não abraçaria com a mesma força a conversão ao Catolicismo e a sua Teologia da Cruz ou, muito menos, a sua vida de clausura.
O Dia Internacional da Mulher, motivo de celebração em todo o mundo, dia vivido e revitalizado intensamente pelo feminismo, pretende ser uma luta pelos direitos das mulheres num quadro intelectual, político, cultural, moral, ético e religioso delineadamente ocidental, pós-moderno, onde inserir todas as mulheres gera tensões de desagrado, desconcerto e polémica. Edith é um exemplo paradigmático.
As mulheres que ousam formar uma identidade própria, quantas vezes contra a lógica da evolução social ocidental pós-moderna, são ignoradas, criticadas ou humilhadas. Não supreenderiam se não fossem mulheres brilhantemente formadas e de voto na mão. São-no, pois, polémicas ou irreverentes, conservadoras ou novas contestatárias, pelas suas posições menos "feministicamente estandardizadas" e esperadas: convertidas ao Islamismo, contra a ordenação de mulheres, contra o aborto, rejeitadoras das políticas e filosofias de género e das leis de paridade para eleição política, defensoras da moral sexual da Igreja Católica, contra o machismo (sem serem feministas), defensoras da maternidade, e a lista seria infindável. Já conheci mulheres de cada um destes casos e todas me surpreenderam, pelo que ouso uma pergunta:
Em 2007, primeira década do séc. XXI, o dia da mulher é o dia de todas as mulheres? Ou de só algumas?
Liliana F. Verde
Leitura indispensável:
- VAZ, Mário, Edith Stein - Uma síntese dramática do séc. XX, Edições Carmelo;
- Artigo da Wikipedia, aqui.
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Ler também estes "posts" e artigos: "Mulheres, Homens e Pedestais", Mulher e Dia Internacional da Mulher: Feminismo ou quotas.
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4 comentários:
Mais uma das suas exposições fantásticas.
Cada vez a admiro mais!
Ainda bem que a tenho como amiga.
Hoje existem poucas mulheres daquelas que a Liliana se referiu no texto, ou será que existem muitas mas não são divulgadas?
Bem, pelo menos tenho a ideia que existem menos do que deveriam existir. O problema é que as mentalidades levam séculos a transformar-se.
Todos se preocupam com a revolução em todas as outras áreas descuidando-se daquela que deveria ser a mais importante: a revolução interior, aquela que nos torna seres humanos melhores.
Beijinhos
Alexandra Caracol
Estava só para dizer "Olá" como sugeres mas não resisto a comentar o teu texto, muito bem escrito por sinal.
Considero o dia da mulher uma tremenda hipocrisia e mesmo ofensivo para vocês. A Mulher é mulher 365 dias por ano, e não num dia que algum iluminado resolveu instituir, para outros mais iluminados poderem vender umas florzitas ou umas canecas alusivas ao tema.
AS mulheres são maravilhosas por aquilo que são. O respeito que merecem e recebm varia, infelizmente, de pessoa para pessoa, e um grande caminho ainda vos espera até terem mais do que um simples "dia da mulher".
Não costumo ser tão sério a comentar, mas acho que o texto o merece. Ou então é a fome...
Um grande RAUF para ti!
boa tarde a todos.
já que a mãe do emanuel(meninoazul)
já foi comentado neste blog
eu vos convido dar uma vista de olhos do blog do emanuel tem muita
historia e fotos e noticias.
bastante interessante obg.
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Alexandra e Rafeiro,
Obrigada pelas vossas sugestões.
Ricardo Gomes,
Obrigada pelos links. Vou consultá-los. ;)
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