Para quê a poesia em tempos de indigência? A resposta à interrogação de Holderlin não é fácil nos dias que correm, de triunfo da venalidade e da usura. Mas provavelmente nunca o foi. E, no entanto, os homens escrevem poesia desde o princípio do Mundo. A poesia (o que quer que a poesia seja) não serve para vender nem para trocar, e muito menos para ficar na fotografia. Não dá votos, não dá poder, não promete nada, não produz nada (nem sequer sentido, pois é sentido produzido). Por que escrevem então os homens poesia? É uma pergunta assustadora, capaz de gerar em nós a dúvida e a suspeita e se a vida não for a "vidinha"?, e se salvar a vida não for aprender a nadar? Experiência dos limites e da solidão da língua, a poesia, a "poiesis" é o fazer, é algo, como diz Jean-Luc Nancy, que é feito do seu fazer. E, independentemente do que leve os homens a escrever poesia (e nem sempre têm sido as melhores razões), o fazer feito da poesia tem o poder de nos olhar do lado de dentro dos nossos próprios olhos e do lado de dentro dos olhos do mundo. Porque, como escreveu um grande poeta, Ruy Belo, somos seres olhados. E isso não é coisa tranquilizadora, podem estar certos os comemorativos que hoje, Dia Mundial da Poesia, andarão por aí com a poesia na lapela.
(Texto original, aqui.)
quarta-feira, 21 de março de 2007
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