terça-feira, 17 de abril de 2007

Cogito IX - Quando os outros dependem de nós

Quando andava na Universidade, lembro-me de ter ouvido, na T.S.F., uma entrevista com um político, de cujo nome não me recordo, que tinha lutado desesperadamente contra um cancro. Na mesma entrevista, apelou-se à doação de medula óssea. Na altura, porque era também dadora de sangue, pensei como poderia ser dadora de medula óssea.

O que fazer, então?

Eu não sabia onde e como poderia ser dadora de medula, pelo que comecei uma “maratona” da descoberta de como o ser. Digo "maratona", porque, de facto, nunca pensei que fosse tão difícil chegar a uma resposta tão óbvia...

Comecei, pela facilidade de localização, em ir ao Centro de Oncologia de Coimbra. Certamente que lá me dariam todas as respostas. Haveria algum sítio melhor? Lá fui eu.

Para minha grande surpresa, na recepção, a que me dirigi, ninguém me sabia dizer o que era necessário para se ser dador de medula, aconselhando-me a ir aos H.U.C. (Hospitais da Universidade de Coimbra). Pus pernas ao caminho e lá fui eu falar com a médica X. Azar dos azares, ou não se encontrava em serviço, ou estava, naquele momento, indisponível para me receber. Quase que pedi encarecidamente a uma enfermeira que me explicasse o que fazer e aonde me dirigir para obter as informações pretendidas. Vendo a minha boa vontade (ao menos isso!), pediu-me que esperasse um pouco. Depois de metida pelos corredores do hospital, regressou com um médico (muito atencioso e simpático, por sinal), a quem expliquei ao que ia. Num gesto de compreensão levou-me até à janela de um dos quartos, apontou o dedo para um edifício novo do lado direito e explicou-me que fosse até lá, pelas traseiras e que me dirigisse, indo da sua parte, à Dr.ª Fátima (deste nome eu recordo-me!).

Isto tudo para explicar que perdi uma tarde inteira à procura do meio de ser dadora de medula óssea.

Podem até dizer-me que qualquer pessoa sabe que os Centros de Histocompatibilidade são os locais para esse efeito. Eu não sabia, para além de ninguém, inclusivamente alunas de Medicina, não saberem! Será que as pessoas saberão?

À altura era dadora de sangue, porque familiares meus próximos o são, tornando-me eu mais consciente e desperta à realidade de dar o que temos e que os outros precisam. Aflige-me a ideia de a grande maioria das pessoas não equacionar sequer a hipótese de se informar e de ser dadora, ou de sangue, ou de medula óssea. E, pior, fico assustada com todas as voltas que dei para obter uma informação tão simples.

Quando os outros dependem de nós, só temos uma hipótese, dar as voltas que forem necessárias para encontrar a solução. Afinal, há pessoas de todas as idades a necessitar de um transplante. Naquela altura, havia um bebé a precisar. Na verdade, se não tivesse a consciência de que outros podiam depender de mim, teria desistido...


Para que não fiquem dúvidas sobre o que é necessário para se ser dador, aqui ficam dados úteis:

Lisboa
CEDACE, Registo Português de Dadores de Medula Óssea
Hospital Pulido Valente
Alameda das Linhas de Torres,
1171769-001 LISBOA
Tel. 21 750 41 52Fax. 21 750 41 76

Porto
Centro de Histocompatibilidade do Norte
R.Roberto Frias - Pavilhão Maria Fernanda
4200-467 Porto
Tel. 22 51 9102 ou 22 557 3470

Coimbra
Centro de Histocompatibilidade do Centro
Pcta Prof. Mota Pinto - Edf. São Jerónimo, 4º Apartado 90413001-301 Coimbra
Tel: 239480700/719


Sítios úteis na Internet:
Instituto Português do Sangue
Associação Portuguesa contra a Leucemia
Oncologia Pediátrica

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Portugal quer atingir 100 mil dadores de medula óssea este ano

1 comentário:

Ka disse...

Excelente Cogito!!!

Talvez por ter família próxima a trabalhar num lab de análises , realmente nunca tive a noção que poderia ser difícil obter este tipo de informações. No entanto acredito perfeitamente que tenhas tido essa dificuldade... afinal nem sequer existe divulgação deste tipo de informação a toda a gente... e o mais extraordinário é que hoje em dia dispomos de inúmeros meios de comunicação, que poderiam, caso houvesse vontade real para o fazer, ter um papel fundamental neste tipo de acções.

Gosto Imenso dos teus cogitos Liliana :)

Beijinhos