domingo, 1 de abril de 2007

Cogito VIII - Um "post" antigo: A mulher e a Igreja

Hoje, em conversa com familiares, lembrei-me um "post" do Sociedade Civil que escrevi, aquando do dia 8 de Março:

Quando se fala da mulher e da Igreja pensa-se, não raras vezes, no papel da mulher na Igreja Católica Apostólica Romana, cujo estatuto na hierarquia eclesiástica continua a ser inferior ao do homem, negando-se-lhe, por exemplo, o sacramento da Ordem. Não me esquecendo de que falar da mulher e da Igreja é falar da mulher em qualquer Igreja, de qualquer confissão religiosa, gostaria de me reportar à Igreja Católica por ser a que mais me diz respeito.

Não tendo intenção de menosprezar os estudos de género nesta matéria e a luta de muitas mulheres, inclusivamente portuguesas, julgo que a defesa e a discussão da ordenação de mulheres na Igreja Católica têm sido mal conduzidas, confundindo-se e misturando-se permanentemente a ordenação com "direito" ou com "emancipação feminina" (feminista?).

Na minha óptica, o argumento mais forte que deve mover a ordenação demulheres é o da vocação, que não se escolhe, é concecida por Deus. É, de facto, isso que se é negado ainda hoje às mulheres, a sua realização vocacional plena, pela Ordem, quando essa é a sua vocação.

Levará ainda algum tempo que as mulheres possam vir a ser ordenadas na Igreja Católica. Este é um caminho lento que elas próprias, leigas ou não, têm vindo a construir, por exemplo, através da celebração dominical, mesmo em Portugal.

Quando a Igreja Católica ordenar a sua primeira mulher, desejo que ela seja uma missionária dessa África esquecida, uma Afegã ou uma Chinesa. Espero ainda viver o suficiente para assistir a esse momento. Esse será um dia mais feliz para toda a Humanidade.




Publicado aqui (Sociedade Civil), e aqui (Fala-me de Fé).

Outros textos relacionados com esta temática:
- A Mulher na Igreja Católica,
- Futuro do papel da mulher no seio da Igreja debatido por especialistas em Coimbra,
- Mulheres «ordenaram-se» e arriscam a excomunhão,
- Nove mulheres «ordenaram-se» padres,
- Uma entrevista,
- Católicos no Canadá ordenam mulheres e homem casado,

- Portuguesa no Vaticano contra mulheres sacerdotes.

Petição:
- Ver aqui.

(Ver assinaturas aqui.)

5 comentários:

Liliana F. Verde disse...

Notícia Zenit:


Bento XVI indica pista do aprofundamento do papel da mulher na sociedade e na Igreja
Afirma perita da Conferência de Aparecida

APARECIDA, terça-feira, 15 de maio de 2007 (ZENIT.org).- Segundo a professora Sandra Ferreira Ribero, perita na Quinta Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe, em seu discurso de abertura da reunião eclesial, Bento XVI indicou a pista do aprofundamento do papel da mulher na sociedade e na Igreja.

Ribero --física, teóloga e especialista em sociologia da religião, coordenadora nacional do Movimento dos Focolares no Brasil--, recordou na coletiva de imprensa desta terça-feira que o Papa reconheceu algo de machismo nas sociedades latino-americanas.

De fato, o Papa afirma em seu discurso que «em algumas famílias da América Latina persiste ainda, infelizmente, uma mentalidade machista, ignorando a novidade do cristianismo que reconhece e problema a igual dignidade e responsabilidade da mulher a respeito do homem».

«É verdade que o Santo Padre sublinhou esse aspecto falando da família. Mas obviamente esse aprofundamento do discurso extrapola o âmbito familiar», afirmou a perita.

Ribero destacou ainda que o fato de o discurso do Papa se colocar no início da Quinta Conferência indica que se trata de uma pista de reflexão.

«João Paulo II já havia colocado em evidência o gênio feminino, como ele chamou. Como a Igreja é uma realidade muito rica, ela pode ser olhada de vários perfis. O perfil mariano da Igreja foi historicamente muito pouco considerado, e isso é um desafio hoje.»

Segundo ela, da teologia de Urs von Balthasar e do Magistério de João Paulo II aprende-se que o perfil mariano é tão fundamental para a Igreja quanto o perfil apostólico-petrino.

«Maria é a rainha dos apóstolos sem pretender para si os poderes apostólicos. Qualquer reflexão sobre o feminino, sobre o papel da mulher na Igreja e na sociedade deve partir de uma mariologia mais aprofundada», disse.

«Normalmente, quando se pensa no papel da mulher na Igreja, pensa-se logo no sacerdócio feminino, mas não é isso». Segundo ela, isso é um «detalhe insignificante» e um erro, diante de uma «missão muito maior que se abre à mulher», destacou.

«O papel da mulher é praticamente o papel de Maria na Igreja e na sociedade», disse a perita.

Segundo a professora, Maria é a leiga por excelência, portanto é também a discípula de Cristo por excelência.

Nesse sentido, ela afirma que um grande caminho de atuação e aprofundamento do perfil mariano na Igreja se abre nos novos movimentos eclesiais, realidades em que os leigos se destacam e se formam sob um novo impulso nos dias de hoje.

ZP07051516

15 de maio de 2007

Anónimo disse...

Olá Green!
Li o teu último post sobre a mulher e a Igreja. Um tema controverso, é verdade, mas também um tema simples para quem tenta ver as coisas com os olhos de Deus. Tu dizes e muito bem: "o argumento mais forte que deve mover a ordenação demulheres é o da vocação, que não se escolhe, é concecida por Deus." Logo se acreditas nisto também devias concluir que as mulheres nunca poderão ser ordenadas pela simples razão de que Deus não muda de ideias, não é como nós que ontem tinhamos vocação para Carmelitas e hoje para Missionárias!!! Deus não muda e a Igreja será sempre conduzida por Ele e não pelas nossas ideias!
Beijinhos!

Liliana F. Verde disse...

Adivinha,

Dizes muito bem "Deus não muda", mas a Igreja deve mudar e tem de mudar, sobretudo se chegar à conclusão de que o que faz está mal ou foi mal feito, nem que isso tenha sido feito durante séculos. (As missas também foram em Latim durante séculos, mesmo muito depois de Lutero ter defendido que deveriam ser em vernáculo e foi preciso chegar-se ao Concílio Vaticano II para alterar isso...). A vocação é muito mais do que uma ideia... Por isso, não entendo por que não hão-de as mulheres poder serem ordenadas. Não é uma ideia que está em causa, muito menos um ideal. É, como julguei deixar explícito, uma questão de vocação (A vocação ao sacerdócio escolhe o sexo? Não será essa uma questão meramente cultural?). Deixo isto para pensarmos...
Bj

Liliana F. Verde disse...

Portuguesa no Vaticano contra mulheres sacerdotes
Teresa Gonçalves, recém-nomeada como nova consultora do Conselho Pontifício para o Diálogo Inter-religioso, argumenta que as mulheres já desempenham um papel importante na Igreja

«Não vejo necessidade... não vejo o sacerdócio como cume. Há mulheres fundadoras de movimentos leigos e congregações que, não sendo sacerdotes, bispos, não fazem pior do que os melhores bispos», respondeu, em declarações telefónicas à Agência Lusa, a partir de Roma, onde vive há 43 anos, quando confrontada com a possibilidade de as mulheres serem ordenadas padres.

Teresa Gonçalves lembrou, a este propósito, que a congregação Missionárias da Caridade, fundada pela missionária católica albanesa Madre Teresa de Calcutá, falecida na Índia em 1997, apoia os mais desfavorecidos um pouco por todo o mundo, sendo o seu papel reconhecido internacionalmente.

A portuguesa entende, sem se alongar na reflexão, que a ordenação de mulheres sacerdotes exige, antes de mais, uma «discussão» do «conceito de hierarquia» na Igreja Católica. Teresa de Jesus Osório Gonçalves, 65 anos, foi nomeada terça-feira por Bento XVI como nova consultora do Conselho Pontifício para o Diálogo Inter-Religioso, organismo do qual foi membro entre 1988 e 2004.

O Conselho «regula as relações com os membros e os grupos das religiões que não são compreendidas sob o nome cristão e também com aqueles que, de algum modo, possuem o sentido religioso», segundo a agência noticiosa católica Ecclesia, citando a constituição apostólica Pastor Bonus, de João Paulo II.

Questionada pela Lusa sobre temas sensíveis como o aborto, a eutanásia, a pena de morte, o casamento e a adopção de crianças por casais homossexuais, Teresa Gonçalves, católica, escusou-se a pronunciar-se sobre assuntos «muito complexos», embora se afirme pela «opção da defesa da vida» e de «uma vida sexual normal».

Além de Teresa Gonçalves, o Papa nomeou uma outra mulher, uma religiosa italiana, como consultora do Conselho para o Diálogo Inter-religioso, que congrega um total de 18 consultores, com mandato de cinco anos.

Sobre as novas funções que vai desempenhar, a portuguesa disse aguardar orientações.

«Mas será uma participação externa, pode ser num congresso...», referiu.

Durante os 16 anos em que foi membro do Conselho Pontifício para o Diálogo Inter-religioso, Teresa Gonçalves aprofundou o estudo sobre as seitas e os novos movimentos religiosos, que, crê, se têm «intensificado» um pouco por todo o mundo, em especial nos Estados Unidos.

«Nos Estados Unidos, a divisão do Cristianismo, com toda a liberdade, deu origem a vários movimentos», advogou a portuguesa, considerando que «a fragmentação de movimentos religiosos, menor no mundo islâmico», resulta da «busca de coisas novas, coisas diferentes dos caminhos habituais».

«Faz parte da natureza humana procurar caminhos diferentes», insistiu, ressalvando que «pode haver interesses económicos e políticos» associados aos movimentos religiosos.

«Movimentos de interesse de poder com a 'capa' de interesse religioso», admitiu, sem concretizar exemplos.

Natural da Amadora, Teresa de Jesus Osório Gonçalves licenciou-se em Românicas em Coimbra, tendo em 1964 partido para a capital italiana para estudar Teologia, curso que não havia para mulheres em Portugal.

Especializou-se, em 1971, em Ciências Religiosas no Instituto Regina Mundi, instituição ligada à Universidade Gregoriana que se dedica à formação teológica de mulheres.

Posteriormente, trabalhou na secção portuguesa da Rádio Vaticano e na Embaixada do Brasil junto da Santa Sé, onde esteve oito anos.

Reformou-se após ter exercido funções no Conselho Pontifício para o Diálogo Inter-religioso, para o qual foi agora nomeada como consultora. Assume-se como «romana», pelo que só vai a Portugal para visitar familiares.

Além da portuguesa, foram nomeados pelo Papa consultores do Cazaquistão, Emirados Árabes Unidos e Taiwan, entre outros países.

O Conselho Pontifício, presidido pelo cardeal Jean-Louis Tauran, tem cinco novos membros, entre os quais os arcebispos Leonardo Sandri, prefeito da Congregação para as Igrejas Orientais, e Gianfranco Ravasi, presidente do Conselho Pontifício da Cultura.

Lusa / SOL

http://sol.sapo.pt/PaginaInicial/Sociedade/Interior.aspx?content_id=68296

Liliana F. Verde disse...

A mulher e o cristianismo

06.12.2007, Alexandra Teté


A ideologia do género pretende libertar a mulher de si mesma, da sua natureza, da sua própria feminilidade


Vasco Pulido Valente já disse o essencial, colocando a nu a frivolidade e a ignorância de certas intervenções ditas feministas no colóquio sobre "A mulher nas religiões". Ainda posso compreender o que frei Bento quis dizer quando afirmou que "o cristianismo é uma invenção de mulheres, seduzidas por um Cristo feminista", pese embora a ambiguidade e a irreverência forçada das suas palavras. É verdade que a notável expansão do cristianismo nos cinco primeiros séculos é fortemente devedora, no plano sociológico, do papel desempenhado pelas mulheres (e não apenas pela sua influência maternal e conjugal): mais disponíveis para a conversão, as mulheres gozavam nas subculturas cristãs de um estatuto superior - quer na família, quer na Igreja - ao das mulheres pagãs. A isso se associava a menor fertilidade destas últimas, resultante dos costumes sexuais pagãos, da prática do infanticídio sobretudo feminino e, em qualquer caso, do império masculino sobre a mulher e sobre a vida e morte dos seus filhos nascentes (Cf. por exemplo, The Rise of Christianity, de Rodney Stark, Princeton University Press).
Em suma, de acordo com a mensagem de Cristo, as mulheres eram tratadas com respeito (um respeito inédito, aliás), como pessoas com igual dignidade, transcendendo os preconceitos do tempo. Para as mulheres, a conversão ao cristianismo correspondeu a uma libertação.
Ao contrário do feminismo de equidade, assente na igual e essencial dignidade pessoal de mulheres e homens, sem renunciar à conjugabilidade entre ambos e à especificidade feminina, a ideologia do género pretende libertar a mulher de si mesma, da sua natureza, da sua esponsalidade e maternidade e da própria feminilidade. Na sua versão mais extrema e radical, esta perspectiva despreza e reduz a feminilidade a um mero construto social que pode e deve ser desmontado. Esse feminismo de género remonta ao feminismo radical dos anos 60 e, mais recentemente, tem integrado a agenda ideológica progressista e invadido sub-repticiamente vocabulário, programas educativos e leis. Os efeitos perversos desta política de engenharia de mentalidades seriam de esperar: a deformação e degradação da mulher, estereotipada umas vezes como mulher-objecto e, outras vezes, como mulher-homem. E, claro, em nome da igualdade não surpreende o surgimento do homem-objecto e também do homem efeminado, bem como a promoção da homossexualidade.
Para essa visão, como atestam o zelo sectário e o tom censório exibidos por alguns dos participantes no colóquio referido, a tradição judaico-cristã é o último e principal obstáculo. Huxley ficcionou um admirável mundo novo em que a tecnologia genética (permitindo a manipulação e a produção industrial de seres humanos), a abolição da família e a promiscuidade sexual garantiam eficazmente todos os direitos sexuais e reprodutivos (com a máxima segurança e higiene, obviamente). Nesse pesadelo, a Bíblia e as histórias de amor (heterossexual) estavam encerradas no cofre-forte dos livros proibidos. Associação Mulheres em Acção