A minha experiência no voluntariado remonta aos meus tempos de estudante universitária.
Tendo integrado o G.A.S. (Grupo de Acção Social), do C.U.M.N. (Centro Universitário Manuel da Nóbrega), contactei com realidades sociais muito específicas e de grande necessidade, tais como crianças desfavorecidas em idade escolar, idosos e imigrantes (sobretudo de Leste).
Com efeito, o meu primeiro trabalho voluntário foi desenvolvido junto de crianças desfavorecidas em idade escolar (1.º ciclo), que me permitiram sentir muito proximamente a carência material e afectiva de algumas crianças provenientes de classes sociais mais fragilizadas, mas também de sentir que elas serão a oportunidade que a Sociedade lhes der de crescerem saudavelmente em todas as dimensões do Ser Humano. A presença de alguns voluntários junto daquelas permitiu a diversidade de acompanhamento e uma aprendizagem escolar e afectiva muito especial. Por isso, dificilmente esquecerei a presença de alguns voluntários no ano seguinte ao meu trabalho voluntário, numa festa de Natal, em que a minha e a presença de voluntários antigos foi recebida cheia de alegria e de saudade. É a prova de que os bons momentos e a presença da pessoa nunca se esquece, pelo menos no "coração mais íntimo".
No mesmo ano em que iniciei o trabalho voluntário com crianças, tive, por intermédio de uma amiga, a oportunidade de iniciar também, ainda que não tão regulado, o trabalho com idosos, que, de todos os exercidos até hoje, me custou mais, quer pela falta de experiência na área, quer pelas minhas aptidões. Apesar de não ser um trabalho em que me sentisse tão à vontade, reconheço que foi uma mais-valia, pois contribuiu para a felicidade das idosas que visitei e contribuiu para a minha própria aprendizagem. Os idosos são das pessoas mais esquecidas e desfavorecidas na nossa Sociedade. Nunca na minha vida tinha visto uma pessoa viver em condições físicas tão degradantes ou ver-se acabar, dia-a-dia, mais longe da família e do lar humano de outrora. Enfim, uma injustiça e uma angústia vivida por milhares de pessoas no nosso país…
Porque necessário, fui uma das pessoas que integrou o projecto P.A.I. (Projecto de Apoio ao Imigrante), dando aulas de Português, sobretudo a imigrantes de Leste. Uma tarefa muito complicada pela incomunicabilidade gerada tantas vezes, mas de uma aprendizagem pessoal deslumbrante. Professores, engenheiros, músicos, médicos, entre outros, foram meus “alunos” e ensinaram-me que, apesar da língua, das diferenças culturais, da religião, da cor, etc., somos todos Humanos e temos a obrigação de nos compreendermos, de nos respeitarmos e de nos ajudarmos uns aos outros.
No 4.º ano da Faculdade, realizei para a cadeira de Psicologia, um trabalho sobre Voluntariado e Desenvolvimento. Apercebi-me, pela minha pesquisa, de que o voluntariado era uma área carente de investigação, apoio e investimento, no nosso país. Claramente, é (ainda), apesar de algumas medidas novas e bastante recentes, até por parte do Governo, uma área menor.
Regressada da Universidade, comecei, juntamente com outras pessoas interessadas em doar um pouco de si e do seu tempo aos outros, um grupo de voluntariado, integrado num grupo de pastoral universitária. Pretendia-se que esse grupo divulgasse o voluntariado, sobretudo junto dos jovens entre os 18 e os 30 anos de idade. Outras pessoas acabaram por integrar o grupo, dada a falta de grupos de voluntariado organizados, não impedindo-o de progredir e de ter ideias, bem pelo contrário. A cooperação, o espírito de ajuda e a iniciativa atirou-nos para um projecto que se concretizaria em diferentes trabalhos voluntários: trabalho com idosos (em lares: alfabetização e animação), trabalho com crianças órfãs (em lares e internatos: apoio escolar), recolha de tampinhas (oferecidas a uma senhora que comprou uma cadeira de rodas para o marido – Campanha Tampinha Amiga), e divulgação de voluntariado. Do nada formou-se um grupo empreendedor e algumas pessoas revelaram-se capazes de integrar outros projectos de acção social mais exigentes e carentes de ajuda humana.
Por motivos profissionais e ausência prolongada do local de trabalho do grupo, desintegrei-o, o que, a meu ver, teve algumas dificuldades em manter o espírito inicial e progredir com os seus objectivos e projectos. Contudo, foi um momento de consciencialização, para mim, de que o voluntariado tem de ser encarado com muita determinação, empenho, trabalho e doação sérias e desinteressadas. Há, na verdade, muitas pessoas que querem ser voluntárias e dar um pouco de si aos outros. O que falta mesmo é mais divulgação do trabalho voluntário e da sua organização.
Assim, estando ausente, mas como modo de continuar um trabalho de voluntariado, criei este blogue, Voluntariado Nova Geração, um blogue de divulgação de notícias de voluntariado. Para participar nele, acabei por convidar outros dois voluntários, a Cidália e o João, que comigo se empenham neste projecto. Ficamos felizes pelas mensagens que as pessoas nos mandam com as mais diversas dúvidas, a que temos tentado dar resposta, dentro das nossas possibilidades e conhecimentos, assim como pelas suas visitas diárias.
Este ano, integrei a Campanha do Banco Alimentar contra a Fome, uma nova experiência para mim.
Apesar da pouca experiência na área de voluntariado, e muito restrita ao meio português e local, sinto que é necessário promover o voluntariado junto das pessoas, sobretudo dos jovens, e criar grupos locais de voluntariado (governamentais e não-governamentais). O que faz, muitas vezes, com que os jovens não adiram ao voluntariado é a falta de divulgação e falta de estruturas (grupos de voluntariado organizados) que possam integrar. Os jovens estão interessados no voluntariado, mas precisam de uma estrutura base para a sua integração. Não podemos esquecer, porém, que qualquer actividade voluntária, tendo por base a ajuda ao Outro não deve nunca substituir as obrigações que os Governos têm para com as pessoas, o que, infelizmente, nem sempre se regista.
Preocupo-me com a Humanidade. Sei e tenho perfeita consciência de que não faço nada de especial para a mudar e, por isso, sinto-me (quantas vezes!) inútil. Gostava que o Mundo pudesse ser melhor para Todos, mas vejo demasiadas injustiças e alheamentos para acreditar que o possa mudar sozinha...
A nossa Sociedade, cada vez mais utilitarista e desumana, precisa do Voluntariado e sobretudo do Voluntariado Jovem. Ela precisa que as pessoas olhem para a sua volta, que valorizem o Outro. Impossível? Talvez difícil, mas não impossível. Se cada um de nós fizer a sua parte, se der um pouco do que tem (e toda a gente tem algo a dar), o Mundo passa a ser outro, se calhar, o mundo da Utopia… Gostava que o Mundo fosse diferente, mais Humano, para TODOS. O Voluntariado é umas das vias para o conseguir, em Sociedade.
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2 comentários:
Para ser voluntário é preciso sair de dentro. Partir do nosso melhor (interajuda, solidariedade, partilha, dedicação, responsabilidade,...), não ter medo e arriscar. Arriscar a dar-se, a ouvir, a escutar, a trabalhar. Arriscar a ir para aquilo que não se conhece.
Mas vale a pena. Sei-o por experiência própria. Eu já ganhei e sei que a humanidade ganha com o voluntariado.
Ajuda-te! Ajuda o outro! Ajuda o mundo!
Beijinhos, Cândida
É verdade Cândida!
Sabêmo-lo por experiência, não é? ;)
Beijinhos também para ti.
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