quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Cogito XIV - Uma experiência educativa em terras nórdicas

Setembro já começou e com ele um novo ano lectivo.

O mês de Setembro sempre teve, para mim, um brilho mágico e encantado. Porque principia o ano escolar, é como se soprasse um vento fresco e se renovasse tudo. Era uma alegria imensa quando via uma pilha nova de livros e quando preparava a mochila com o material para mais um incansável ano de aprendizagem e não só…

Ainda que atravessando um caminho algo nebulado e incerto, Setembro continua a ter encantamento. O mês que marca o ano lectivo não deixa, porém, de me fazer suspirar e interrogar como vão as ondas no mar da Educação em Portugal. Há anos que se debatem políticas que pouco ou nada alteram a instabilidade de um sistema petrificado, inerte, com uma enorme falta de imaginação, cooperação, solidariedade e organização ou gestão dos seus recursos.

As experiências pessoais de vida levam-nos a interrogar práticas, costumes, saberes e gestões mais ou menos pré-concebidas. Questionar é preciso, mas saber questionar é uma necessidade e uma experiência que se vai ganhando com o tempo e com algum espírito crítico. Longe desse saber questionar, vou tentando questionar as práticas e as organizações escolares, por pura insatisfação pessoal.

Este ano usufruí de uma experiência sobre a qual prometi falar já algum tempo: a minha experiência enquanto Assistente de Línguas na Finlândia, nada mais nada menos do que o país que conseguiu os melhores resultados no P.I.S.A. (Programme for International Student Assessment).

Todo o tempo que estive em contacto com o sistema educativo nórdico foi um tempo de aprendizagem sobre a cultura, o povo e o sistema educativo finlandês que não posso, de maneira alguma, separar da minha vivência, pois tudo é diferente de Portugal. Enfim, foi quase como se entrasse num planeta diferente.

Muito há a dizer e muito ficará por contar acerca de uma experiência tão diferente, tão rica e tão nova (pelo menos para mim que me vi, pela primeira vez, sozinha, num país completamente diferente do meu). Vou falar acerca do que vi e vivi, na primeira pessoa. Se alguém quiser saber mais, é só deixar as perguntas na caixa de comentários que eu farei os possíveis por responder, não prometendo fazê-lo para todas as dúvidas.

Uma Cultura e uma História diferentes

Para entender um sistema de educação diferente do de Portugal, é necessário também saber um pouco da Cultura e da História finlandesas que influenciam e alteram os modos de vida. A própria Escola é influenciada na sua estrutura, nas disciplinas estudadas, no currículo escolar por essa Cultura e por essa História.

Ao falar-se da Finlândia, temos de ter em conta que falamos de um país nórdico, escandinavo, com menos de um século de História.

A Finlândia faz fronteira com a Suécia e com a Rússia, tendo sido território de ambos os países, pelo que as influências dos seus vizinhos são muitas. Porque são independentes desde 1918, os Finlandeses são um povo altamente patriota. O dia 6 de Dezembro é, assim, um Dia da Independência muito querido, respeitado e celebrado com toda a dedicação e alegria. Para serem o que são, os Finlandeses lutaram e continuam a lutar muito e a trabalhar arduamente.

Na Finlândia há duas línguas oficiais, o Finlandês e o Sueco, falado apenas por uma minoria. O Finlandês, da família das línguas urálicas, é uma língua cuja estrutura sintáctica e lexical difere bastante das línguas neo-latinas. Apesar de ter um alfabeto bastante semelhante ao latino, o Finlandês é uma língua muito complexa e bastante difícil de aprender. O Sueco, porém, é mais acessível, visto ser de origem germânica. Imagine-se só o que é aprender uma língua que não tem o tempo futuro, que não tem artigos, que não distingue feminino ou masculino nos pronomes (“ele” e “ela” são simplesmente “han”), e que é declinada (ttem 15 casos).

Na Escola, os alunos cuja língua materna é o Finlandês, aprendem o Sueco como segunda língua, e aqueles cuja língua materna é o Sueco, aprendem o Finlandês como segunda língua.

Há duas religiões oficiais no país: a Protestante Luterana e a Ortodoxa, tendo a primeira mais fiéis. Há, obviamente, outras confissões religiosas, mas num número bastante mais limitado, como a Católica. Uma celebração Cristã Católica só mesmo em Helsínquia, junto à Cruz Vermelha.

O facto de ter vivido num país, cujas religiões principais são a Protestante e a Ortodoxa, fez-me “conhecer” uma realidade com a qual nunca tinha contactado. Assim, tive a hipótese de estar numa celebração Protestante e de ver uma mulher celebrar, muito embora isso não fosse totalmente desconhecido para mim.

A Finlândia é o país nórdico que primeiro concedeu à mulher o direito de voto, sendo um país de alta participação feminina em todas as áreas, ainda que algumas sejam bastante mais requisitadas como a Educação, o que já vem sendo um hábito em muitos países. As mulheres finlandesas saíram muito cedo de casa, começando a trabalhar fora do lar. Mesmo na política, elas são em número elevado. A Finlândia foi também um dos países a primeiro aderir às quotas na política (apesar de ter sucesso naquele país, não deixa de ser, por vezes, uma pedra no calçado, visto que há anos em que há homens a menos a concorrer a eleições…). Com efeito, o Governo Finlandês é composto maioritariamente por mulheres e o representante máximo da Nação é uma mulher, a Presidente Tarja Halonen.

Este país nórdico é também uma das economias mais competitivas e promissoras do velho continente. Como país de grandes discrepâncias sazonais, teve de procurar outras orientações para a sua economia. Hoje, revolucionando as telecomunicações e fazendo delas o ponto alto dos seus investimentos, a Finlândia é o país da conhecida Nokia e tem um crescimento económico excelente, conferindo, assim, à sua população um nível de vida muito bom.
Em 1995, aderiu à União Europeia.

A Finlândia é fria, fria, fria. Apesar de eu a sentir tão friazinha que estava sempre metida em casa (como qualquer verdadeiro Finlandês…), o Inverno foi quentinho: em média 15ºC negativos. Só apanhei uma vez 29ºC negativos, com neve e vento, e pensei que ia morrer. Não nevou muito, mas ainda deu para ficar encantada, colada à janela. A neve é, de facto, lindíssima.

Ninguém passa frio na Finlândia, aliás, isso seria um absurdo. As casas são boníssimas, têm portas e janelas duplas! Não há frio que entre. Garanto que passo mais frio em Portugal do que passei na Finlândia. Todos e quaisquer estabelecimentos são aquecidos. (No primeiro mês, vi-me obrigada a pedir à família que me enviasse… T-shirts!!!)

Ao contrário do que pensamos, o que não passa de um estereótipo, os Finlandeses são simpáticos e acolhedores. Da minha experiência, só posso dizer que todos se mostraram sempre disponíveis e atenciosos, prevendo coisas de que eu necessitaria, como por exemplo, roupa adequada ao tempo mais frio, o que, de facto, foi muito bom, pois não necessitei de a comprar!!!

Naquela parte do globo, o Natal, o Ano Novo, a Páscoa são vividas de uma forma muito diferente. No Natal come-se fiambre e legumes, e na Páscoa pintam-se ovos e semeia-se… relva em vasos (a primeira verdura que se vê ao fim de alguns meses de neve!).

Um pouco sobre a Educação Escolar

Em primeiro lugar, devo dizer que nada, mas mesmo nada do que se faz na Finlândia, a nível da Educação é novo. Nada! Aliás, “surpreendeu-me” bastante mais a Educação na Suécia (obrigada Isabel!).

Pois, então, perguntar-se-á: de onde vem o sucesso na Educação da Finlândia? É isso que vou tentar explicar com base na minha experiência.

Durante um semestre, tive a oportunidade de contactar com o Sistema de Educação Finlandês, na Escola de Korso (“Korson koulu”), uma pequenina cidade, perto de Helsínquia.

A Escola de Korso é uma escola do ensino básico, pública, de 500 alunos com idades compreendidas entre os 11 e os 15 anos. Integra, assim, alunos do 5.º ao 9.º ano de escolaridade, muito embora, nesta escola, o 5.º e o 6.º ano sejam excepcionais, visto que a escolaridade primária vai até ao 6.º ano. A escola integra ainda turmas de ensino especial, destacando-se uma turma de alunos com disfasia que também tive a oportunidade de acompanhar.

A Escola de Korso não é a única da área. Mesmo ao lado há uma outra muito nova (caiem os olhos só de ver uma escola nova equipada…), uma escola secundária, que integra a Biblioteca da cidade e uma escola primária (para onde os alunos entram com 7 anos de idade).

Falar da Escola na Finlândia é falar de uma Escola pública, completamente livre e gratuita. Falar de escolas privadas, pelo contrário, ainda que não impossível, é estranho, quase contraproducente. Contudo, falar de uma sistema de educação, uno, é impossível. Não existe, pelo menos como estamos habituados em Portugal. É que todas as escolas, sendo propriedade estatal, são autónomas.

Na Escola, os professores têm acesso a todo o material necessário para a prática lectiva: manuais escolares, livros, fotocópias, cartolinas, computadores, projectores de computador, acetatos, impressoras, etc., sem quaisquer custos. Por isso, em vez de existir uma reprografia e uma papelaria, existe um género de uma arrumação com todos os materiais, com fotocopiadoras, tudo pronto a ser utilizado! Foi muito engraçado, no primeiro dia, oferecerem-me um caderno e eu perguntar onde podia pagá-lo…

É curioso como, nem a Escola de Korso escolheu Portugal como a sua prioridade, nem eu a Finlândia. Contudo, não deixei de me surpreender com a vontade de toda a comunidade escolar aprender algo sobre um país tão distante e com tão pouca expressão na União Europeia (até me fica mal dizer isto agora que Portugal preside àquela…): a localização geográfica (agora já sabem que Portugal fica na Europa e que não faz parte da Espanha), a língua, a cultura, a música (o Fado, a música estudantil, o jazz e a música do Brasil), a cozinha, as tradições (o Dia do Bolinho), roupas tradicionais portuguesas, a História, a Bandeira, a moeda, o Presidente da República e o Primeiro-Ministro, os Prémios Nobel, as personalidades portuguesas de renome (Figo, Ronaldo, Durão Barroso). Ah! E quase que me esquecia: tudo isto na língua franca, o Inglês. Esta foi, de facto, uma mais valia para os alunos, pois tiveram de tentar comunicar comigo em Inglês, sentindo a necessidade de se expressarem numa língua estrangeira.

E porque o Espanhol já chegou à outra ponta da Europa, nada mais interessante do que traduzir um texto do manual de Espanhol para Português. A leitura soou a “bxbxbxbxbx”, mas os alunos ficaram a saber que podiam, pelo menos, compreender o Português escrito.

Na rádio da escola, um hábito bastante finlandês nas instituições escolares, falei sobre o fado e sobre a fadista Mariza, que esteve na Finlândia, sobre a língua portuguesa e o Brasil, e sobre a literatura portuguesa. Aquando da minha última intervenção, falei sobre José Saramago, que também esteve em Helsínquia, e li um pequeno texto de O Memorial do Convento em Português, de modo que todos os alunos tivessem a oportunidade de ouvir um pouco da minha língua materna. Tudo coisas novas para eles e um pouquinho de matar saudades para mim.
Quando se fala na educação da Finlândia é impossível não focar as grandes diferenças entre os sistemas educativos finlandês e português. Quem conheça bem o sistema educativo português sabe perfeitamente que as diferenças entre os dois sistemas, não raras vezes, são abissais. Contudo, mesmo sendo o sistema educativo finlandês um dos melhores sistemas de ensino na Europa, inclusivamente demonstrado pelo Relatório P.I.S.A. (Programme for International Student Assessment), não invalida algumas críticas, fazendo-me reflectir sobre o ensino e a educação. Esta reflexão foi enriquecida com a minha ida à Suécia, onde visitei duas escolas diferentes, em Rekarne. Esta experiência permitiu-me contactar com um sistema diferente do finlandês, apesar da proximidade dos dois países, questionando práticas e modelos.
Foi, de facto, fascinante ter contactado com o sistema de educação mais falado, em Portugal, durante os últimos tempos. Enquanto estive na Finlândia, recebi algumas mensagens de amigos e familiares que me contavam que tinham visto, na televisão, uma notícia sobre a vida ou a educação na Finlândia. E eu estava lá para rectificar a verdade: o sistema educativo finlandês é, realmente, público, gratuito e exigente.

Um dos grandes benefícios da experiência de assistência foi o contacto com um modelo de organização escolar mais livre e eficiente a nível de recursos humanos e materiais. Numa altura em que Portugal vive uma crise de administração pública, foi fundamental contactar com a realidade da autonomia de escolas. Constatei que um sistema de educação que se quer igual para todos, livre, público e gratuito tem de delegar nas escolas a responsabilidade e o direito de autonomia, pois são elas que estão em contacto com aqueles que a compõem, os alunos.

É impressionante como, na Finlândia, praticamente todas as escolas são públicas. Constatei que esta realidade traz implicações muito grandes, por exemplo, no modo como uma escola é gerida, em função das necessidades da comunidade estudantil. Assim sendo, os professores acabam por ter, não só mais responsabilidades, mas também mais poder e participação nas actividades realizadas. Em função das suas necessidades e capacidades, os professores são contratados pelo director da escola, permitindo escolher os professores necessários e adequados, assim como manter um corpo docente mais estável.

Para além da autonomia das escolas, fiquei impressionada com o facto de a educação ser completamente gratuita, incluindo material escolar (livros, cadernos, lápis) e refeições. Nunca esquecerei o momento em que me foram oferecidos dois cadernos e eu perguntei onde os podia pagar! Não havia onde pagá-los, não tinha de pagá-los.

Inicialmente, fiquei impressionada com a liberdade que os alunos tinham. Este foi também um ponto importante da aprendizagem para mim, pois ao contactar com o sistema educativo sueco, o meu conceito de liberdade na escola foi-se alterando.

É verdade que, na Finlândia, os alunos têm mais liberdade na aprendizagem. Estes podem escolher as suas próprias disciplinas, optando, assim, por aquelas que mais lhes agradam como, por exemplo, Economia Doméstica e Trabalhos Têxteis.

Fiquei também muito surpreendida com o reduzido número de alunos por turma (15 em média, mas havia turmas com menos, mas também com mais alunos), e com a participação dos pais na escola, num dia de aulas em que eles estiveram presentes, como se fossem os próprios alunos.

Questionei-me várias vezes como é que a Finlândia conseguiu resultados tão bons no ensino.

A Finlândia é um país novo, não tem mais de um século de História, ao contrário de Portugal que conta já com oito séculos de existência. Só vendo o modo como os Finlandeses vivem o seu Dia da Independência (6 de Dezembro), se consegue perceber o quanto a nação e a liberdade são valores a preservar. Um povo que viveu a opressão durante séculos luta, hoje, por um país que quer ver crescer e cujos valores do trabalho, da liberdade e da igualdade transmite às gerações mais novas. A palavra kotimaa tem um valor muito especial que, na expressão portuguesa de terra natal ou nação parece que perdeu valor ou impacto.

Se há meio mais eficaz para uma nação crescer esse meio é o da Educação. Por isso é que o investimento sério que a Finlândia fez na Educação é um investimento com bons resultados, porque a par da construção de uma nação, a Finlândia investiu num ensino de qualidade, igualdade e exigência para toda a população, homens e mulheres. (A Finlândia foi o primeiro país europeu a conceder o direito de voto à mulher, o que, na sua concepção cultural, tem muito impacto. Por exemplo, o facto daquela ter mais instrução e de poder estar com os filhos pequenos em casa, ajuda bastante a que as crianças, desde cedo, tenham uma boa educação.)

Além da exigência, o sistema educativo finlandês privilegia o ensino prático, por exemplo, através da Arte, da Economia Doméstica, das Tecnologias e dos Trabalhos Têxteis.

O ensino da Música e das Línguas é, desde tenra idade, uma aposta forte e não um mero “enriquecimento curricular”.

Fiquei deveras surpreendida com a aprendizagem da Música, o que ajuda bastante os alunos a desenvolverem competências cognitivas e criativas. Os alunos tocam mesmo instrumentos musicais, aprendendo órgão, viola, guitarra, bateria ou outro instrumento.

A aprendizagem das Línguas é uma realidade, na Finlândia. Sendo um país bilingue, toda a gente aprende a sua língua materna e a segunda língua oficial. No caso da escola onde estive, a língua materna era o Finlandês e a segunda língua era o Sueco. Para além destas línguas, os alunos, começam a aprender, na escola primária, Inglês e, se quiserem, uma segunda língua estrangeira. No ensino básico, podem ainda estudar outras línguas como Francês, Alemão, Espanhol ou até Latim, sempre como opção. Os imigrantes podem aprender a sua própria língua mãe. Esta é, de facto, uma política educacional excepcional na Finlândia!

O ensino da Religião, ao contrário de Portugal, é obrigatório, contribuindo para um conhecimento geral mais abrangente e ainda para a promoção dos valores da tolerância, respeito e liberdade. Na escola primária, cada aluno tem educação moral da sua confissão religiosa, e no básico, Religião, como disciplina de cultura mais ampla.

Outras das mais valias do sistema educativo finlandês, pelo que pude constatar, são o facto das turmas serem pequenas, não ter uma grande comunidade de imigrantes e ter um ensino direccionado para os alunos com dificuldades específicas de aprendizagem. Assim, se um aluno apresenta uma necessidade educativa especial, integra uma turma cujos alunos tenham essas dificuldades, beneficiando de um apoio educativo especial. Esta política é contestável, no entanto, funciona muito bem na Finlândia, onde os alunos acabam por aprender mais do que com a (“inexistente”) política de educação especial em terras lusas.

Ao nível didáctico, em sala de aula, não verifiquei propriamente diferenças muito substanciais, nomeadamente em relação às minhas expectativas. Verifiquei, sim, que no ensino das línguas, os manuais, ao contrário do que estava habituada, eram bilingues (vinham escritos na língua materna e na língua estrangeira), e que havia sempre um livro de exercícios e jogos de computadores com as matérias, o que tornava a aprendizagem da língua mais fácil.
A exigência é grande e os alunos têm de trabalhar com muito afinco. Em Finlandês, toda a gente tem de ler livros obrigatoriamente e, em Matemática, não existe máquina de calcular (aliás, nunca vi nenhuma nas salas de aulas).

Apesar de ter aprendido imenso com o sistema de educação finlandês, alguns aspectos foram de difícil adaptação. Por exemplo, o facto de um ano escolar ter mais períodos. A cada novo período, elaboravam-se novos horários. Notava, pois, que os alunos ficavam demasiado sobrecarregados com provas de avaliação (ainda assim com menos do que em Portugal). Compreendo, porém, que em determinadas disciplinas, os períodos permitissem ser como um projecto e isso fosse bastante positivo, tanto para professores, como para alunos, mas, na aprendizagem das línguas, podia ser prejudicial, dado que os alunos acabam por esquecer muito do que aprenderam anteriormente. Essa é uma crítica que os próprios professores fazem ao sistema.

Curiosamente, foi, na Suécia, que encontrei um ensino mais centrado no aluno e no seu ritmo de aprendizagem, i.e., menos tradicional. Se o ensino na Finlândia é um ensino livre, mais o é no país vizinho. O sistema de ensino sueco que conheci permite que o aluno vá realizando actividades de acordo com o nível de aprendizagem em que se encontra. Assim, alunos da mesma idade podem estar em diferentes níveis de aprendizagem na mesma turma. Este é um sistema que potencia as capacidades de cada aluno, quer ajudando os que têm mais dificuldades, quer ajudando aqueles que podem avançar na sua aprendizagem.

Ao reflectir sobre os dois tipos de ensino (que, na realidade, não eram novos para mim, pois, em Portugal, a Escola da Ponte pauta as suas práticas didáctico-pedagógicas no ensino centrado no aluno), verifiquei como o ensino pode, muitas vezes, gerar mais desigualdades do que igualdades. Por que razão a escola não ajuda um aluno, a evoluir mais em disciplinas que domina? Esta foi uma entre muitas questões que me ficaram acerca do ensino/aprendizagem. Será que o actual processo didáctico-pedagógico da Finlândia se manterá por muitos mais anos, apesar dos bons resultados? Sou da sincera opinião de que o sistema finlandês tem todas as condições para apostar num ensino mais centrado no aluno e de surpreender ainda mais. Aliás, há já professores a tentar mudar a concepção de ensino/aprendizagem… inclusivamente na escola em que estive...

Também o ensino especial foi uma experiência única. Nunca, na minha vida, tinha tido a oportunidade de trabalhar com crianças do ensino especial, em que tivessem um professor só para eles, em que se tocasse piano na sala de aula e em que se passasse um dia inteiro com eles, sendo a proximidade afectiva diferente.

Tive ainda a oportunidade de visitar a Associação HERO (Associação para a Aprendizagem Diferenciada) de Helsínquia e de conhecer as actividades do Lukineuvola para pessoas disléxicas, ampliando os meus conhecimentos relativamente às dificuldades de aprendizagem da leitura/escrita.

E, por fim

Acho-me uma sortuda por me ter sido dada a oportunidade de contactar de perto, quer com a cultura nórdica, quer com o sistema educativo finlandês.

Uma experiência como a do Comenius, para além dos benefícios didáctico-pedagógicos, traz outros grandes benefícios, sobretudo por todo o enriquecimento cultural de que se beneficia.

A experiência de contactar com os povos nórdicos não é uma experiência tão frequente quanto a de se contactar com outros povos da Europa e da União Europeia, pelo que esta experiência foi única.

Esta experiência fez-me repensar o ensino e a educação, e acima de tudo, abrir horizontes. Como me disse uma professora, não há sistemas melhores do que outros, há sim, sistemas diferentes. Cabe, assim, a cada um de nós, (re)pensá-los e investir correctamente na Educação.

Portugal atravessa, hoje, uma crise de identidade, sobretudo na Educação. Os Governos e as mudanças sucedem-se sem que se façam as alterações necessárias e a Educação mude para melhor. A Finlândia conseguiu resultados fantásticos, que toda a gente comenta nos telejornais, entre professores, etc. Hoje percebo o porquê desses resultados.

Ver mais aqui (filme sobre a Educação na Finlândia.).

P.S.
Se alguma vez forem à Finlândia, aqui ficam algumas dicas de boa convivência:
1) cumprimentar as pessoas sempre com abraço ou com um aperto de mão (não há beijos na cara para ninguém!);
2) descalçar-se sempre que se entra numa casa (há quem ande descalço na Escola, por exemplo!);
3) a sauna é sempre um local de boa convivência e um momento relaxante;
4) no Inverno, nadar no lago de água gelada (não é assim tão mau como pode parecer…), fazer ski ou patinar no gelo.

1 comentário:

José Carrancudo disse...

Deduzo que os finlandeses não ensinam a ler pelo método global, nem recusam de usar e desenvolver as capacidades de memorização sistematizada dos alunos, evitando assim os dois erros metódicos principais do nosso sistema escolar, erros estes que impossibilitam o aproveitamento escolar de um aluno médio.