Tive pena de não poder participar no "Forum" da T.S.F. cujo assunto era o uso da máquina calculadora no 1.º Ciclo do Ensino Básico, portanto, entre a primeira e a quarta classes. Não li qualquer documento sobre o reajustamento do ensino da Matemática e, por isso, é sempre difícil tecer comentários. Apesar de tudo, gostaria de ter dito que, quando estive na Finlândia, nunca vi uma única máquina de calcular nas mãos dos alunos, entre o 5.º e o 9.º anos, inclusivamente, nos alunos com necessidades educativas especiais. Além do mais, jogava-se xadrez com os professores, na aula de Matemática, como quem brinca com um outro jogo qualquer. Pequenas diferenças no ensino... ou grandes...
As alterações ao programa de Matemática do ensino básico, em discussão pública até quinta-feira, prevêem o uso das calculadoras desde o primeiro ciclo, uma questão que está a levantar polémica, dividindo opiniões entre professores e especialistas.
A proposta para o reajustamento do programa da disciplina estipula que, "ao longo de todos os ciclos, os alunos devem usar calculadoras e computadores na realização de cálculos, na representação de informação e na representação de objectos geométricos".
Para a Sociedade Portuguesa de Matemática (SPM), o incentivo à utilização das máquinas de calcular desde os primeiros anos de escola pode ser arriscado, já que "o seu uso indiscriminado faz perder a destreza de cálculo".
"Este reajustamento do programa insiste demasiadamente na máquina de calcular e não coloca qualquer limitação ao seu uso. O ensino da Matemática é sobretudo o ensino do pensamento, pelo que os elementos essenciais devem continuar a ser o papel e o lápis", disse à Lusa Nuno Crato, presidente da SPM.
Ressalvando que aqueles instrumentos "não devem ser completamente afastados do ensino básico", o especialista defende uma utilização selectiva e apenas como "um auxiliar do ensino, nunca como uma peça central".Já Joana Brocardo, da Direcção-Geral de Inovação e Desenvolvimento Curricular do Ministério da Educação, defende a proposta, considerando que "nos dias de hoje usar a calculadora começa a ser como usar os dedos".
"A questão é usar a calculadora de forma inteligente, do ponto de vista educativo. O documento impõe a importância do cálculo e prevê que os alunos disponham de um conjunto alargado de formas de calcular, sendo que a máquina calculadora é apenas uma delas", explica.
Segundo a responsável, que acompanhou o grupo de trabalho encarregue da elaboração da proposta, o reajustamento define as situações em que deve ser utilizado aquele instrumento, estipulando que na antiga primária o recurso à calculadora deve ser feito na resolução de problemas em que "o essencial não é a forma de cálculo, mas sim a aprendizagem matemática que a tarefa envolve".
Em relação ao segundo ciclo, o documento defende que o uso da calculadora "permite a realização de experiências com padrões e o trabalho com situações reais que, de outra forma, pela sua morosidade, seriam difíceis de concretizar".
A presidente da Associação de Professores de Matemática (APM), Rita Bastos, partilha a opinião e dá um exemplo prático: "Para os alunos perceberem os múltiplos de cinco o melhor é recorrerem à calculadora porque vêem todos os números aparecer e isso permite-lhes identificar o padrão, percebendo que todos acabam em zero ou cinco".
"Sem calculadora isso seria muito mais difícil porque seriam necessários muitos cálculos", explicou à Lusa Rita Bastos, defendendo que aquelas máquinas "têm de ser utilizadas no ensino básico, mesmo no primeiro ciclo, mas não indiscriminadamente e sem substituir o cálculo mental".
Em discussão pública desde Julho e até quinta-feira, a proposta de reajustamento introduz alterações ao programa de Matemática do ensino básico em vigor desde o início da década de 1990.
Notícia daqui.
2 comentários:
Pois...eu realmente não compreendo como se pode achar que é benéfico para um aluno estudar com a máquina calculadora!!!
Acredito que devemos estimular o cérebro e isso faz-se com treino e perseverança também. Por exemplo os contadores chineses (que nós tínhamos quando éramos pequenos) apesar de auxiliarem não se substituíam ao raciocínio.
quanto ao exemplo que deste da Finlândia as diferenças são tão grandes que até faz confusão!!
Beijinho e bom fim-de-semana
É benéfico estudar não só com calculadora mas com computador, logo desde o primeiro ano escolar, estando esse estudo enquadrado num abrangente e bem delineado plano de aprendizagem. O que acontece na escola portuguesa é que esse pensamento amplo à priori sobre o modo de ensinar não existe logo à partida. O problema reside, mais uma vez, na falta de pensamento estratégico da Educação, em particular (já que falamos do ensino básico) da Matemática e da Língua materna.
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