domingo, 28 de setembro de 2008

Só uma escola exigente é democrática

Condenar todos os alunos à mediocridade é o melhor que a democracia portuguesa tem para lhes oferecer? Por estes dias, milhão e meio de alunos portugueses voltam às aulas. Vão encontrar um sistema de ensino burocratizado, centralista e ineficiente. Irão para a escola que o Estado impõe aos seus pais, de acordo com a área de residência ou de trabalho. Talvez não tenham ainda todos os professores nos primeiros dias, porque a colocação de contratados é um processo nacional de tentativa e erro. Alguns acabarão o ano sem dar todo o programa de Português ou de Matemática por causa da indisciplina dos colegas ou da desmotivação dos professores. Vão encontrar, sobretudo, um sistema que, ao fim de um século de ensino obrigatório, ainda não ultrapassou o maior desafio da escola pública: conciliar a igualdade de oportunidades e a procura da excelência. É o mesmo dilema entre a paixão da igualdade e a paixão da liberdade que Tocqueville via no coração da democracia moderna. Na França jacobina, a igualdade do Terror venceu a liberdade da Revolução. Com as devidas distâncias de uma analogia histórica, algo de semelhante se passa hoje no ensino português.
Vejamos um exemplo: os exames nacionais. O Governo socialista anunciou há dias, com retumbante publicidade, que a taxa de retenções (ou "chumbos") no ensino básico e secundário do ano passado foi a mais baixa da década. No entanto, segundo a Sociedade Portuguesa de Matemática e a Associação de Professores de Português, isso aconteceu porque os exames foram deliberadamente facilitados. Nivelaram-se as notas para embelezar as estatísticas. O Ministério da Educação esquece que este admirável mundo novo da igualdade acaba também com o incentivo à excelência. Para quê estudar, se Maria de Lurdes Rodrigues dará a todos os alunos, no fim do ano, outro milagre das rosas?
Mas será isso verdadeiramente democrático? Condenar todos os alunos à mediocridade, mesmo aqueles que pelo seu esforço chegariam mais longe, é o melhor que a democracia portuguesa tem para lhes oferecer? Acredito que não. Só uma escola exigente é democrática. O ensino formal que os mais pobres não receberem na escola dificilmente virão a receber em contextos informais como a família ou a comunidade local. E, sem um ensino de qualidade, entrarão na vida activa em desvantagem - se conseguirem entrar na vida activa. Só um sistema que permite a real liberdade de escolha dos pais é socialmente justo. Se as famílias estão descontentes com uma escola, devem ter o direito de optar por outra dentro do sistema público. Não há real liberdade de escolha, se o Estado limita a opção à ditadura do número da porta. Ou à largueza da bolsa doméstica.
Essa exigência e essa liberdade só serão possíveis com a avaliação das escolas. Não basta avaliar os professores para melhorar o ensino. Um professor não trabalha isolado - e, se o faz, algo vai mal. Há que avaliar os resultados de cada escola, responsabilizando as direcções e dando-lhes a maior autonomia pedagógica e administrativa para criar um projecto educativo próprio.É urgente reforçar o peso científico dos programas. Os alunos não têm que passar mais tempo nas aulas: basta diminuir a carga, de resto muito ideológica, das áreas curriculares não-disciplinares. A disciplina de Português não tem que ensinar tolerância e multiculturalismo, mas gramática e ortografia. A disciplina de Matemática não tem que ensinar a respeitar a opinião dos outros, mas que 1+1=2 (independentemente das opiniões). Só uma escola onde se ensina que 1+1=2 pode ensinar o respeito pelos outros. Porque respeita o conhecimento, respeita os alunos, respeita as famílias e respeita os contribuintes que a pagam.
O país pode fazer mais e melhor para vencer o desafio da educação.
Pedro Picoito, Docente do Instituto Superior de Educação e Ciências - PÚBLICO, 25.09.2008

1 comentário:

LuisaB disse...

OLÁ Liliana
Estou inteiramente de acordo com este post. Assino por baixo!
As escolas de hoje são uma autêntica palhaçada!
O meu filho era aluno de 100% apesar de ser asperger e ter alguma dificuldade a Português, estudava todo o tempo em casa para conseguir ser rápido o suficiente já que não lhe deram o prolongamento de tempo de teste ao qual tinha direito sendo asperger.
Chegava à escola e ouvia os outros a criticarem o seu intenso estudo para ter 100% até os professores criticavam e não aprovavam e ficavam com alguma “raiva” dele ser assim e diziam que o perfeccionismo não era bom porque ninguém era perfeito. Desmotivavam a cada minutos de cada dia o meu filho noos seus estudos. Aos outros até elogiavam dizendo muito bem Fulano tiveste 50%. Estudaste, viste como resultou?
A ansiedade do meu filho era intensa perante o pouco tempo que tinha para o teste.
Tinha de pensar em todas as hipóteses da pergunta para a descodificar e perceber bem, aonde a professora queria chegar
Depois tinha de elaborar a resposta de forma a não haver hipóteses de receber incompletos e tudo isto para uma mente brilhante mas asperger que não se agiliza tão facilmente como outra que não o seja era muito stressante e pesado para ele.
Via os colegas terem 19% e 30% e receberem nota 3 na pauta!
Péssimos em comportamento! Originaram a saída de um Prof. que não os aguentava demitindo-se da escola.
Se com esforço mínimo e com várias negativas estes aluno passaram de ano para ano sem aprender os conteúdos quem quer o Sr. Primeiro-Ministro, enganar nos números?
Passar passam, mas nada sabem!
Raramente vi os colegas do meu filho a estudar, eles usavam telemóveis para os “copianços” é que isto agora é mais sofisticado nesta nova geração usam-se os telemóveis para este fim.
Alguns até usavam telemóveis nos testes ouvindo música perturbando a concentração de quem queria de facto fazer algo na vida!
Com tudo isto, os alunos “brilhantes” deixaram o lugar aos espertinhos da nova geração. A mim assusta-me o facto de ter estes jovens no meu futuro, em que serei velhota e assistida em todos os sectores por pessoas mal formadas a custo de quê? Ora, de passarem sem saber e com educação e comportamento zero nas escolas e sabe-se lá o que vai em casa.
Votaria para uma escola diferente mas infelizmente é isto que nos é oferecido!
Beijinhos e boa continuação destes post’s interessantes.