quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Nunca nos esqueçamos de que é preciso toda uma Aldeia para educar uma criança

Há uma certa nostalgia que associa os jovens à luta ambiental. O facto de a causa em Portugal ser relativamente nova, de aqueles serem os principais protagonistas na publicidade institucional relativa ao Ambiente, de as escolas serem um dos principais locais para o alerta ambiental e das expectativas que todos depositamos neles são talvez alguns dos factores que fazem dos jovens uma espécie de “Santos do Ambiente”. Nada mais falso. Sei (porque vi e outros o constataram), que para muitos jovens, na freguesia da Barreira, escusavam de existir ecopontos, pois não serviriam para nada. De facto, insistem em levar para o contentor do lixo comum todo aquele que é passível de ser seleccionado e reciclado (uma coisa tão simples e tão banal!).
Muito do que aprendemos, fazemo-lo por imitação. Com efeito, as crianças batem, porque vêem bater, dizem palavrões, porque os ouvem, são egoístas, porque não vêem partilhar; mas também ajudam, se virem ajudar, cumprem com os seus deveres, se virem outros cumprir com os seus, cuidam, se virem cuidar.

Para além da imitação, é importante que se louvem os bons comportamentos e que se chame a atenção para os maus. Não sei por que infeliz “revolução social”, deixou de se chamar a atenção das crianças ou dos jovens para os maus procedimentos! Muitas são as pessoas de idade que se queixam com frequência de que «dantes é que havia respeito» e que são capazes de se manifestar. Na verdade, vejo, com mais frequência, que são os de mais idade a recriminarem más acções ou faltas de respeito do que adultos de meia-idade...

Ninguém se deve de coibir de chamar a atenção dos mais novos para acções incorrectas, apelando ao bom senso, ao bem comum, a princípios que nos envolvem socialmente, à responsabilidade e ao respeito pelo Próximo. Ninguém deve, inclusive, deixar de apelar ao próprio exemplo. É, pois, célebre a frase de Joubert: «As crianças têm mais necessidade de modelos do que de críticas.». Estranho é que muitas vezes se ouça «Faz o que eu digo e não o que eu faço.».

Num dia de praia, quando me preparava para abandonar o areal, pareceu-me ver sair do meio de um grupo de crianças entre os seus 9 e 14 anos, no máximo, fumo de cigarro. Estarreci. A fumar? Menor de idade? Num sítio tão visível e tão público como uma praia? Aproximei-me para me certificar. No meio do grupo, um rapazito fumava despreocupadamente. Pedi-lhe que apagasse de imediato o cigarro e relembrei-lhe os perigos nefastos do tabaco. Descobri que, face à dificuldade que os menores têm em arranjar tabaco, depois da nova legislação, quem lhe dera os cigarros tinha sido o pai. Mais palavras para quê?!

Há uns meses fiz o mesmo com um rapaz e uma rapariga que iam pela rua a dizer palavrões e que nem a entrada num café bem frequentado lhes alterou o vocabulário. Não é muito confortável chamar a atenção para casos como os citados quando, de repente, temos dezenas de pares de olhos apontados a nós. Apesar disso, até agora, ninguém reprovou as minhas chamadas de atenção. Consentimento? Provavelmente.

Em questões de Ambiente, há jovens que ensinam os mais novos, mas também há mais velhos a terem de ensinar os mais novos. A aprendizagem deve ser social e mútua. É como uma cadeia que, se alguém quebra, se desmorona e deixa de ter efeito.

O ditado de origem nigeriana é antigo: é preciso toda uma Aldeia para educar uma criança. Comecemos nós, adultos, a melhor das pedagogias: sejamos nós a dar o exemplo, que o resto virá certamente por acréscimo. Tenho a certeza de que no contentor do lixo comum deixará de haver tanto lixo passível de ser reciclado.

Barreira.net (Setembro de 2009)

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