segunda-feira, 22 de janeiro de 2007

Brincou com o "sim" e o "não" o tempo todo, mas era isto que faltava ouvir:

Reconheço razão àqueles que defendem o novo referendo porque as opiniões mudaram. Mudaram, realmente. Estão a mudar desde os anos 80, desde a Perestroika, desde a queda do muro, desde o fim da guerra fria. E estão a mudar cada vez mais, com o 11 de Setembro, com o espírito apocalíptico, com a crise da tanga, com a crise do petróleo, com a guerra preventiva, com o medo.
O medo. O medo instalado nas conversas, nas empresas, nos serviços públicos, nas escolas, nos telejornais. Não há esperança, não há futuro, não há alternativas, não há volta a dar. Não vamos ter reforma. Vem aí a gripe das aves. Vem aí o Irão nuclear. Vêm aí os mouros. Matar para não morrer. Atacar antes que nos ataquem, mesmo que esse ataque seja hipotético, mesmo que as armas de destruição maciça só existam em relatórios fraudulentos, mesmo que a crise que aí vem seja o resultado de andarem a repetir-nos que há crise.
O medo. Entrámos numa sociedade de medo, numa civilização de medo. A resposta ao medo é o salve-se quem puder. O analgésico do medo é o consumo. A sociedade de consumo em que vivemos, intrínsecamente individualista e egoísta, cultiva o descartável. Desde o papel higiénico às pessoas, tudo é descartável, hoje em dia. Os empregos são descartáveis, as amizades são descartáveis, as relações afectivas são descartáveis. Os velhos são descartáveis. Os filhos são descartáveis. As responsabilidades são descartáveis.
É, realmente, uma questão civilizacional. E é por isso que vou votar Não.
Ver aqui.

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