quarta-feira, 31 de janeiro de 2007

Deontologia Médica II

Joana Monteiro e Filipa Bianchi de Aguiar

Estudantes de Medicina

Um dia sonhámos a Medicina como caminho para cumprir o nosso destino. Fascinava-nos a imagem que tínhamos dos médicos que conhecíamos. Pessoas que lutavam contra a morte - diziam-nos - sempre e em todas as circunstâncias ao serviço da Vida. Até ouvíamos falar de um juramento muito antigo que fazia da Medicina, em todos os tempos, não apenas um modo de ganhar a vida, mas um modo de viver a Vida.

Isso tornou-nos estudantes de Medicina.

Hoje, continuamos a sonhar ser médicas. Continuamos a acreditar que vale a pena apostar o que somos neste caminho de serviço ao Ser Humano. Fascinam-nos as possibilidades novas que o desenvolvimento das ciências e das tecnologias médicas inauguram. Seremos capazes de ir ao encontro das debilidades da condição humana com recursos até agora inimagináveis. Sabemos que um horizonte imenso se abre diante de nós. Um horizonte de esperanças e de realizações que nos permitirão responder muito mais eficazmente a patologias até agora sem resposta. Sabemos mesmo que viremos a estar em condições de ir personalizadamente ao encontro de cada homem ou de cada mulher, considerando a sua identidade pessoal.

Interrogamo-nos sobre as repercussões do momento que estamos a viver no nosso futuro e no futuro da sociedade.

Admitir o aborto como está a ser perguntado no referendo não será a subversão do paradigma fundamental da própria Medicina, o "respeito absoluto pela vida humana desde o seu início"? Que futuro se abre para a Medicina se nós médicos formos incumbidos, não de servir e proteger a Vida em todas as suas etapas, mas, sem critérios, de acabar com ela precisamente quando é mais frágil e indefesa? De que confiança seremos dignos?

O que seremos no futuro? Obedientes executores de tarefas a pedido ou sujeitos conscientes de uma ética médica que defende a sociedade dos riscos de uma medicina sem ética? O que esperarão de nós?

O que esperará de nós a sociedade do futuro? Que resolvamos pela via da morte problemas sociais aparentemente insolúveis ou que participemos na sua resolução com respostas de Vida? Que outros problemas sociais virão a seguir? O que virão a pedir-nos?

Havemos de ser médicas! Hoje, aqui, no coração do debate em curso, queremos marcar encontro com a Medicina no futuro. Apostamos que a Medicina será sempre luta com a doença e com todas as formas de morte. Acreditamos que a Medicina será sempre serviço à Saúde e à Vida. Sabemos que nos encontraremos no futuro, com a Medicina que sonhamos, porque confiamos que a liberdade e a responsabilidade dos portugueses ditará Não no próximo referendo.
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Às minhas amigas, algumas já médicas e enfermeiras, outras ainda estudantes, colegas de Universidade ou não, fica o meu apreço e admiração na luta da causa pela Vida. :) Liliana F. Verde

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