sexta-feira, 12 de janeiro de 2007

Médicos contra o aborto




Médicos podem erguer obstáculos à nova lei se o «sim» ganhar o referendo Contra a legitimação do aborto

São médicos e estudantes de Medicina e, por isso, dizem «não» ao que consideram estar em jogo no referendo de Fevereiro: a “legitimação do aborto”. Não pretendem ir a votos, mas reúnem assinaturas para entregar à Ordem. É o movimento «Somos médicos, por isso não».

CARLA TEIXEIRA

Não crêem na vitória do «sim» no referendo sobre a despenalização da interrupção voluntária da gravidez, agendado para 11 de Fevereiro, mas consideram que, caso isso aconteça, e à semelhança do que aconteceu em todos os países onde houve a aprovação de leis similares, o Serviço Nacional de Saúde poderá erguer obstáculos à efectiva implementação da nova legislação, já que a prática do que definem como “aborto a pedido” é atentatória do teor do Juramento de Hipócrates, obrigatório para todos os médicos em início de carreira e que deve orientar sempre o exercício das suas funções. Desta forma, os médicos e estudantes de Medicina que compõem o movimento «Somos médicos, por isso não», nascido este mês no Porto, sublinham que, “se o «sim» vencer, o Estado compromete a fazer cumprir a lei.
No entanto, essa lei atenta contra o juramento feito pelos médicos de não destruir vidas humanas”, pelo que, à luz do apelo feito há dias pelo clínico Gentil Martins, uma das personalidades que integra o movimento, apenas restará a alternativa da objecção de consciência, inviabilizando a concretização do disposto na lei que, por força da vitória do «sim», venha a ser aprovada. Não obstante, segundo afirmou a O PRIMEIRO DE JANEIRO Roberto Roncon, um dos dirigentes do movimento, que atestou a falta de informação da população face ao que realmente está em causa – o médico está convicto de que “as pessoas não entendem a natureza da pergunta, porque se entendessem, muitos dos que têm intenção de votar «sim», alteravam a sua posição –, o que esta votação pretende aferir é da vontade de abrir caminho à “legitimação do aborto livre”.
Embora o movimento pretenda dar conta publicamente da posição de princípio dos médicos, e Roberto Roncon considera que “a população dá muita importância ao que a classe médica acredita ser correcto”, mais do que marcar posição no caso de vencer o «sim», ou de se submeter à apreciação nas urnas (o movimento não tem a intenção de entregar assinaturas na Comissão Nacional de Eleições, mas apenas de as fazer chegar ao bastonário), a “adesão tem sido muito grande”, até porque o grupo de médicos tem o apoio de todas as plataformas pelo «Não» ao aborto. Na senda dessa grande adesão, todos os clínicos que, a nível nacional, se associaram ao movimento «Somos médicos, por isso não» vão reunir-se numa primeira acção pública no dia 27, que decorrerá em simultâneo, pelas 20 horas, nas várias capitais de distrito (estão já confirmadas Lisboa, Porto, Coimbra, Aveiro, Viseu, Braga, Vila Real e Castelo Branco). Nesse encontro será lida a declaração de princípio do movimento, emanada do Juramento de Hipócrates, e recolhidas mais assinaturas “contra uma lei que transforma a vida humana num bem disponível”.

Moderação
Pelo diálogo...
Roberto Roncon vinca a diferença deste movimento – “Somos médicos ou estudantes de Medicina”, comprometidos com a “salvaguarda da vida humana nos seus momentos de extrema fragilidade, como são o nascimento e a morte” –, e atesta que o grupo não busca confrontação, mas o diálogo e o debate sereno e moderado.

in «O Primeiro de Janeiro»

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