O género é (a par da raça, da orientação sexual, da utilização predominante da mão esquerda ou da mão direita, da côr do cabelo e de uma imensidade de factores) absolutamente irrelevante em termos de adequação para ocupar um cargo governamental. Os membros do Governo são escolhidos um a um, considerando as suas condições e vontade para exercer cada um dos cargos disponíveis. Se se tiver que respeitar uma qualquer quota, após 2/3 ou 3/4 do Governo formado, o Primeiro-Ministro e o País poderão ter que se 'contentar' com as 5ªs, 6ªs ou mesmo 20ªs escolhas, devido a factores que não fazem nem devem fazer diferença para o exercício dos cargos em questão.
É verdade. De 16 Ministros só 2 são mulheres e de 35 Secretários de Estado só 4 são mulheres. Mas concentrarmo-nos nestes números não é apenas superficial, é injusto. E é superficial e injusto porque lança sobre pessoas altamente qualificadas e que aceitaram um lugar no Governo com grande sacrifício pessoal e profissional suspeitas de que foram preferidos em detrimento de pessoas mais qualificadas e disponíveis apenas por causa do género.
Os mais preocupados com a paridade homens-mulheres nos órgãos de soberania deviam fazer uma lista dos membros do Governo e dizerem quais (homens e mulheres) é que não estão qualificados para os cargos para que foram nomeados e perguntar ao Primeiro-Ministro por que razão os/as escolheu. Terá o Primeiro-Ministro preterido alguém altamente qualificado apenas por ser mulher? Ou a maior parte das mulheres que o Primeiro-Ministro sondou não estavam disponíveis? Será verdade que, tal como afirmou o Primeiro-Ministro, o PS não tem suficientes mulheres qualificadas?
As quotas são como tratar uma cabeça partida com aspirina. Poucas mulheres no Governo não é o problema, é meramente o sintoma de algo que pode ser um problema. E esse problema pode estar na misoginia do Primeiro-Ministro ou no facto de a nossa sociedade ainda não ter evoluído para a paridade real.
No primeiro caso, o problema reside no Primeiro-Ministro e não há quotas que o possam resolver. Obrigar a 'escolher' para a sua equipa alguém que não se quer não resolve nada, apenas cria mais problemas.
No segundo caso, o problema continuará por identificar porque, algo que os defensores do "politicamente correcto" parecem não querer entender, a igualdade de oportunidades não se concretiza na paridade mas sim na liberdade de escolha. Será que há poucas mulheres em altos cargos partidários devido aos partidos serem 'clubes de rapazes' ou ao facto de a maior parte das mulheres fazer escolhas que levam a que não cheguem a esses cargos?
Não me incomoda que o Governo tenha poucas mulheres. Incomodar-me-ia se as mulheres fossem impedidas de aceder à formação académica superior (há mais mulheres que homens no ensino superior) ou de ascender aos mais altos cargos nas empresas (cada vez mais mulheres ocupam cargos de direcção), obrigadas a escolher áreas 'mais adequadas' à sua condição (são?) ou a optar pela vida familiar.
A misoginia não se combate com quotas. Estas, pela injustiça de privilegiar pessoas segundo critérios que devem ser irrelevantes, só a provocam. Além de que as quotas levam a que os cargos sejam ocupados por pessoas menos qualificadas. Quando se trata da governação do país, não é isso que se pretende, pois não?
Joaquim Amado Lopes, 2 de Março de 2005,
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