Uma sociedade que se governe pelo facilitismo e permissividade em demasia, traduz-se numa verdadeira “República das Bananas”. Bem diz o nosso povo que tapar o sol com uma peneira nunca deu (nem dá!) bom resultado… A questão da toxicodependência e das salas de chuto merece ser tratada com toda a seriedade e idoneidade e não como um assunto que, com total irresponsabilidade e inconsciência, é lançado de forma sistemática por alguns para a praça pública com insensibilidade (tal como sucede com o aborto), como se o cerne destas questões não incidisse na vida humana e na dignidade da mesma.
A existência das salas de chuto, perdoem-me não as tratar por salas de injecção assistida mas nunca fui muito dada a eufemismos, não reduziria de modo algum o consumo, como é reconhecido até pelos defensores da proposta. A sua mais valia parece residir em tornar o consumo de droga mais saudável. Incoerência das incoerências. Como é possível que a principal preocupação seja tornar mais sadio algo que é na sua essência mortal e destruidor?!
A droga e toxicodependência merecem uma luta frontal e clara, e não uma palmadinha nas costas porque, relembre-se, que todos os casos de dependência de drogas são tratáveis; são curáveis. Enquanto contribuinte, prefiro ver os meus impostos empregues em campanhas e tratamentos pois, isso sim, tem como resultados a diminuição dos danos, cessação de riscos, fim de martírios. Não são instalações com todas as conveniências situadas perto dos bairros típicos de consumo ou estruturas deslocáveis que desincentivam ao tráfico e consumo de droga. Sublinhe-se que nos casos em que sejam usadas drogas de substituição está já provado que elas degradam como as drogas substituídas.
É ao introduzirem-se salas de chuto que se tenta esconder a dura problemática da droga e não o contrário, como alguns tentam fazer crer. A toxicodependência existe, que o digam inúmeras famílias que sofrem ou sofreram já a dura prova que é ver alguém preso nas amarras da droga. Certamente que não duvidariam entre escolher ser o carrasco da continuação do cativeiro ou a chave para abrir novas portas.
É necessário continuar e ampliar a presseguição ao tráfico de droga. É necessário apostar na prevenção e reforçar os meios para que uma reabilitação integral seja possível, não esquecendo a imprescindível mensagem que o tratamento é possível e sensibilizar a sociedade a receber um ex-toxicodependente não com receio nem com pena, mas como um ser humano que deu mais uma oportunidade a si próprio. Com a criação das salas de chuto, um toxicodependente apenas se iria acomodar na sua situação e não se sentiria motivado a uma profunda luta para a mudança. É necessário relembrar que existe uma luz ao fundo do túnel e que seja a própria sociedade e poder político a incentivar que ela seja atingida.
Em vez de velhas birras de governantes e sem dar lugar a velhos tabus, é tempo de Portugal criar uma verdadeira agenda contra o tráfico e consumo de droga, baseado na situação presente, apostando na sua recuperação e pela sua não repetição no futuro.
Por Ana Soares, aqui.
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