sábado, 14 de março de 2009

Cenários possíveis em 2029?

Paragem: Marvila. Passa o cartão familiar pela banda magnética, marca o código de saída, enquanto os gémeos correm à sua frente, em disputa, para as cadeiras infantis, e o filho mais velho os supervisiona com dedicação. Há ainda uns lugares vagos e senta-se também, verificando os pontos adquiridos. “Já dão para comprar um livro.” – pensou. “Mais um bocado e já dá para irmos todos ao cinema.”. Desde que os cartões do autocarro de energias múltiplas dão para acumular pontos para Cultura, que Clotilde os gere minuciosamente. “Mãe, não te esqueças que me prometeste que os próximos pontos eram para as minhas férias no Gerês.” – alertou-a de dedo em riste o mais velho. “Ficas com o dinheiro da retribuição das embalagens e do papel que levas ao Ponto Verde e tens os teus pontos…!” Pim Pim – interrompeu-a, subitamente, a campainha. Paragem na Barreira. A Educadora aguarda os miúdos na paragem. Cintos destrancados e lá vão os gémeos, quase voando para as mãos dela. Acenam-lhes da vitrina.


O autocarro continua a viagem até ao centro da cidade de Leiria. Passa pelas escolas básicas e secundárias e pelo Instituto Politécnico, por ordem de prioridades àquela hora da manhã. Depois, alguns serviços administrativos, o Mercado Municipal e o Hospital, por último, a Biblioteca Municipal e a Zona Polidesportiva. Parou no Politécnico e Pedro despede-se da mãe com a promessa de que ao almoço, tomando o autocarro, ainda passa por casa. Ela acena-lhe e olha para os ponteiros do relógio. “Não convinha chegar atrasada! Ainda há uma ligação de eléctrico a fazer, para andar pela cidade.”. Recebe uma mensagem de telemóvel. É o marido que vai sair de casa, para apanhar o autocarro B.


Este é o cenário idealizado da pacata vida de um casal da nossa freguesia, no tempo de duas décadas. Duvido que venhamos a ter benefícios culturais na separação dos lixos domésticos, assim como no uso dos transportes públicos, com uma oferta bem mais original do que a actual, quando ter um ecoponto à porta de casa é ainda uma luta de Titãs, mas vale sempre a pena sonhar.


Já o tinha tornado público, numa das reuniões locais promovidas pela Junta de Freguesia, mas volto a fazê-lo. Nada conseguimos sem mobilidade, por isso, o automóvel é, ainda, de indispensável uso. E refiro-me ao automóvel (infelizmente!), porque os transportes públicos, nas zonas suburbanas, são quase de impraticável uso, muito embora, bem geridos, se tornem mais ecológicos. Além de caros, incompatíveis com um orçamento amigável das famílias, são tão limitados na oferta horária que não erraremos muito se dissermos que não servem os interesses do cidadão comum. Quão bom seria substituir-se o velho, poluente e ruidoso autocarro por um transporte mais pequeno, por exemplo, de 30 lugares, com uma rotatividade de 60/90 minutos, dependendo da altura do dia, e que fizesse um percurso diversificado pela cidade de Leiria. Não quero nem imaginar como seria tentar depender só e exclusivamente dos transportes públicos, se ao Sábado quisesse ir ao Mercado e à Feira, e ao Domingo ao Hospital. É que não existe, simplesmente, transporte público nestes dois dias da semana. Ou ir ao cinema! Por isso, seria original um percurso nocturno, pelo menos uma vez por semana, de modo a possibilitar a ida à cidade de noite.


Todavia, do que eu gostava mesmo era que existissem passes económicos para quem utilize, com frequência, o transporte público, beneficiando as famílias que têm filhos menores e/ou estudantes, através de um passe familiar. É impraticável que um núcleo familiar gaste, por pessoa, mais de 40€ por mês!!!


Fiquem as sugestões, alimentem-se as necessidades energéticas e teremos um futuro diferente. Talvez em 2029… Até lá, ainda é o tempo de duas décadas.


Publicado no Jornal da Junta de Freguesia da Barreira (Março de 2009)

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