"Pier Paolo Pasolini, esse poeta e cineasta sublime, esse ícone da esquerda, esse herói anti-sistema, escreveu nos anos setenta uma série dramática de textos atacando frontalmente o aborto. Não era um conservador, não era da Igreja, não era um tradicionalista. Estava no campo oposto. Mas era um homem de cultura e que gostava exageradamente da vida, da vida toda, de todas as vidas, desde o princípio. Disse:
"Estou porém traumatizado pela legalização do aborto, porque a considero, como muitos, uma legalização do homicídio. Nos sonhos e no comportamento quotidiano - coisa comum a todos os homens - eu vivo a minha vida pré-natal, a minha feliz imersão nas águas maternas: sei que já lá eu existia. Limito-me a dizer isto porque, a propósito do aborto, tenho coisas mais urgentes a dizer. Que a vida é sagrada é óbvio; é um princípio ainda mais forte do que qualquer princípio da democracia, e é inútil repeti-lo."
"Não há nenhuma boa razão prática que justifique a supressão de um ser humano, mesmo que seja nos primeiros estádios da sua evolução. Eu sei que em nenhum outro fenómeno da existência há tão furiosa, tão total e essencial vontade de vida como no feto. A sua ânsia de realizar as suas potencialidades, percorrendo fulminantemente a história do género humano, tem algo de irresistível e por isso de absoluto e de jubiloso. Mesmo que depois nasça um imbecil". "
(Público)
Sem comentários:
Enviar um comentário